Tenho recuerdos. Penso na segunda vez que estive em Buenos Aires. Na primeira em que andei por Montevidéu. Em Santiago, perdi o voo. Penso nas vezes em que ainda não estive em Medelim. Penso nas cores de um filme do Aristarain. Penso em Sábato e num mundo dessaturado. Penso em abril, quando perdi uma prova, umas aulas, lendo "No me esperen en abril". Penso no disco que organizamos como trilha para um livro de Echenique. Penso num suicídio exemplar. Numa declaração de amor à vida, na saudade do pai. Federico é o nome de um romancista e de um músico que eu admiro. Penso en las amistades. Penso em Córdoba e em Barcelona. Fico imaginando como vive um amigo peruano em Lima. E como reza, se reza, uma ilustradora equatoriana que gosta de rock. Penso no texto que chega de diferentes lugares. Penso em palomitas de maíz. Penso num piano loopeado que serve de melhor trilha para uma volta solitária, perto de um hostel em Palermo. Ainda não fui para Ushuaia. Penso no Rio da Prata. Numa praia sem niguém. Escrevo e-mails para amigos em Caracas. Escrevo e-mails para amigos em Mendoza. Exiliados em Miami. Penso na foto que meu irmão mandou de San Juan. E nas casas gigantes que vi vendendo, pela tevê, em San José. Penso numa língua que enrosca a língua. Numa comida que deixa água na boca. Num locutorio de onde liguei para casa. Num locutório de onde não liguei para ninguém. Marquei encontro uma vez. Por caso, tomei sorvete numa sorveteria caseira com calda de frutilla. Por acaso, comi comida mexicana. Por acaso, li Cocteau em espanhol. Vi uma praça onde dormiam coelhos. E é dela que também tenho saudade.
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