Thursday, January 22, 2009

Ana Carolina chegou exausta da rua. Um dia inteiro de trabalho. Chefe sufocante, café gelado, tampa de privada escorrida. Não é possível, pensou durante todo o caminho de volta. Terceiro emprego da minha vida. Terceiro emprego, a mesma rotina. Ao passar na padaria, jantar de hoje, um pão de batata com requeijão. Mordeu e era hambúrguer. Caramba, será que vocês poderiam fazer o favor de trocar pelo que eu pedi? Não como carne. No ônibus, teve a idéia que tentava executar agora. Amarrar um elástico, de rolo, em cada uma das pontas da sala de estar. Nas grades do arabesco que divide o living e a mesa de jantar. Na ponta de cada pedaço do elástico, uma palavra: "verdade" de um lado, "ficção" do outro. Os elásticos, completamente alinhados. E separados. Com um detalhe importante: comprimento curto; o do lado esquerdo e o do lado direito, juntos, menores que a largura da sala. Para um tocar no outro, esforço, cuidado e paciência. Ou estoura. Arrebenta, palavra da qual Ana Carolina sempre gostou muito. Amarradas as palavras, sentou, no meio, tranquila. Esticava a da esquerda, trazia a da direita. Longe uma da outra. Amaciando, vai que tem jeito, repetia, em silêncio. Mais um pouco daqui, outro tanto dali. Cedendo. Ou rebentando. De um lado, o dia-a-dia, com mensagem de página bloqueada no computador da empresa; do outro, um banho gelado na piscina que separa o Fórum do mar, em Barcelona.
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