Coisa engraçada. Algumas decisões, absolutamente casuais, amarram a garganta. Se é a flor que minha vó plantava na frente de casa, revista em Cerdanyola; o skate que passeava até o fim da rua enquanto o livro de Ciências guardava a matéria da prova na mesa da cozinha, o cesto de roupa suja de antes da reforma, uma musiquinha feito "Mi barco", ou o rádio de rolo de um tio morto. Ontem, gozado, foi só um cobertor. Caramba. Meio frio, filme em dvd, gostosinho. Levantei, querendo provocar aquela sensação de pisar depressa no chão gelado. Aí, quando cheguei, armário fechado, escolheria aquela manta, exatamente aquela manta furada de quando eu tinha 11 ou 12 anos, não mais. Na hora, não percebi, queria mesmo era a manhã perdida em casa, febrezinha controlada, tv em pleno dia de aula. Às vezes feita de "Mundo da Lua", outras de chá quente e batata cozida. Vai saber. Depois, na parte triste do filme - o de ontem, digo, anos mais tarde -, veio essa lágrima salgada, o cobertor como herança antiga, cobrindo sonhos e pesadelos de uma família que, igualzinho a qualquer outra, envelhece; sem tchau ou hora marcada, desmancha.
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