Com 9 anos, de viagem por Recife, comi uma casquinha de siri que não me sentou bem. Passei três dias de cama. Doía a barriga! Antes de ir embora, arrisquei um city-tour pela cidade. Nunca quis destino que não deixasse motivo para estar de volta. Todo lugar tem. Porque a saudade que fica é a saudade de estar longe, dizendo: "estive, estive". O "não estou mais" é o que mais mexe com a gente. No ônibus, com a cabeça no colo da minhã mãe, só alcançava o céu, que, de vez em quando, espiava pela janela. Os azuis são diferentes fora do lugar onde eu nasci. No compasso da voz morna e cadenciada do guia, ajeitado entre o banco e a perna de mãe, dormi, guardando comigo o céu de Recife. Que foi suficiente para saber que há o que ver quando, se eu, voltar. Desde então, nos dias de peito apertado, ou nos momentos em que tenho saudade de qualquer coisa acontecida depois, me pergunto se todos os episódios que imagino como a história dos dias seguintes não são, na realidade, capítulos do enredo daquele mesmo sonho embalado debaixo de um clarão tropical.
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