- Não, amigo-estepe, não me aproximo nos momentos de conveniência. Imagine você. Confio em nossa afeição. Não, não. Não se engane. Se peço alguma coisa, se disfarço meus farrapos, se clamo por ajuda... Que é isso? Somos amigos, ou então? Nada disso. Minha vida anda torta, sei bem... Mas conto com você, não posso? Seus contos, a literatura que você tem. Se fomos, não podemos seguir sendo? Ah, rapaz, ando confuso, você sabe, não foi como planejei. Não, desculpe se... Mas, não, por favor, não entenda mal. Se precisei, se fiz, se usei, se aproveitei, foi porque, é claro, foi, lógico, porque confio, espero, aposto, você sabe bem. Perdão, juro mesmo, mas, não, não. Tantas as histórias, lembra? Como, hein?! As coisas são assim, acho. Quem entende? Têm boas lembranças aqui. Valeram muito, não? Já imaginou? Sempre desejo: que meus filhos façam amigos assim. Mas, oras, tantos os 'mases', os 'mais'. Aí vêm as viagens, as agendas, trabalhos e compromissos. As mulheres, os filhos. Nossa, rapaz, rápido mesmo. Nothing never waits, a música, está lembrado? Quanta vida velha; estamos enrugados agora, ave. É, mas também; será que é para tanto? Foi, foi bom, ainda bem. Tá ido, poxa. E o que virá? Vindo já, claro. Não, amigo-estepe, nossa amizade não foi rasteira. Se agora é, se hoje pode, se quando. Enfim, ninguém jamais adivinhará. Razão para quê? Acontece, pombas, tem jeito de evitar? Ah, rapaz, não, não, nada disso, falei já. É só o tempo; a vida, no caso de cada um. Mas respeito você, homem de Deus. Muito. Respeito os amigos que fomos. Somos? Ah, falei demais, acho. Não me leve a sério, não, tenho me dopado com esse excesso de palavras.
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