- Ei, fominha, tá com pressa? Hein? O que você ganhou com isso? Han, i-di-o-ta?
O homem espera, finge. Não deve ser com ele. O mendigo insiste, incomoda:
- Hein, fominha? Ei, você mesmo - o que você ganhou com isso?
Constrangido - o reproche indignado, o vagabundo de dignidade saqueada. Limpa a bunda com jornal, esfrega o saco a céu aberto - até goza para todo mundo ver. À noite, dorme sozinho, como todo mundo; mas dorme na rua, desacompanhado. Da janela do carro, o apressado transpira envergonhado.
- Fominha...
O ofendido disfarça, pensa em revidar. Ai, covardia; o homem de dentro tem vergonha das regras que aprendeu a jogar. Olha de novo, estuda a galhofa dos outros através do retrovisor. Nem todos são iguais. Não, pensa, não ganhei nada.
O vagabundo, maltrapilho, sai puxando a carroça, cheia de restos do mundo, sobre as costas peladas. Resmunga duas outras palavras, doendo, como todos os dias, com a barriga vazia.
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