Juliana, presta atenção. Não quero discutir, parece que não adianta. Por favor, Juliana. Escuta o que estou dizendo. Querendo dizer. Presta atenção. A gente chega em casa, tem preguiça. A roupa fica acumulada na lavanderia. Ninguém limpa a casa. Olha a merda que está a sala. Quantidade de pó. Nem os discos tiro do lugar. Porque não estou ouvindo música, Juliana. Já não ouço música. E preciso do caminho, no carro, ou de uma escapada no trabalho, porque perdi meu jeito de escutar música, de dançar sozinho, único jeito que danço, para ouvir i-tunes e mp3. Juliana, não é você, só você. Juliana, a gente ficou sem vontade, sem tesão. Tesão na vida, Juliana. Não estou falando de tesão em você, que seria o menor dos problemas. Eu bancava. Você não limpa o mijo do cachorro; entro em casa patinando em jornal. Deito no sofá, não gosto de ver TV, vejo TV. Ou arranjo uma agenda adolescente durante a semana, porque estou carente de vida, de fita rebobinada, de um monte de gente e lugares que me viram ser feliz com música cafona ou sopa de cenoura. Juliana, a gente não precisa mais se confundir. Não estamos questionando a relação. Estamos com medo da vida, escorrendo; do mundo, envelhecendo, e dos nossos corações, que ainda esperam muito mais.
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