E tinha saída? Tem saída? Quando as luzes apagaram, porque a energia acabou; quando a cidade dormiu sem silêncio, porque as bombinhas da quadrilha de pipeiros estalaram; quando o vidro retangular na terceira janelinha da cabine vermelha estilhaçou; quando o Samoeida pediu carinho - e saiu do enquadramento -; quando dois bilhetes de vinte cada um pularam fora do bolso; quando "marihuana"; quando lembrei que alguém ali seguia fazendo moda; quando as quatro estações do ano cabiam num único dia; quando, mais velho, ouvi a canção que ela tinha feito com letras minhas. Ahhh, tinha saída? A vida tem um balanço que não enjôa. Andava perguntando: tem saída? Que dúvida me davam os amigos. Onde e por que estariam? Estariam? Podiam eles estar ali, onde eu, poderiam? Tantos sonhos, ei, "London, can you wait?" For all those things I've got to say? Can you? Acho que pudera, sim. Dez anos mais, ela em todas as esquinas. Um livro sobre uma velha banda pop, ou a diferença entre aflição e melancolia. Há? Há, sim, mas ele estava errado. Esse tipo de diferença a gente só sente num domingo à noite, longe de casa, de qualquer que seja, com uma cesta de supermercado nas mãos, duas latas de sardinha, dois sucos 2 por 1, Pringles páprica, pão de forma, legumes enlatados, frutas enlatadas. A diferença... Só quando um turbilhão de novidades atropela os trapos velhos que disfarçam essa roupa nossa tão estranha aos próprios olhos.
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