Tuesday, March 27, 2012

A gente tinha acabado de chegar do mar. Quando a lancha ficava estacionada longe, dava medo nadar até a praia. A gente saía para ver tubarão e cruzava sempre com alguma tartaruga gigante. Lembro que estava calçando as sandálias; tinha passado água no corpo e no cabelo para poder entrar na casa. Estava escuro, perto das oito da noite. Sentia um pouco de frio, porque a água da mangueira era gelada.
O estrondo foi tão grande que sentimos o chão tremer. Tudo. O chão, a casa. Imediatamente olhei para o meu irmão, que também não entendeu nada. Logo veio o tio Wilton com a notícia: "alguma coisa explodiu". Foi uma conversa muito rápida: ele, meu pai, eu e meu irmão.
De volta ao mar, na lancha, seguimos as coordenadas que chegavam pelo rádio. Um navio cargueiro. Não conseguia saber muito bem o que estávamos procurando. Sei que ancoramos a lancha e baixamos o bote, motorizado. Agora estava cortando a água com a mão, impressionado com o efeito fosforescente das ondas que ondulavam à nossa frente. Achei bonito, estava sentindo saudade.
Primeiro, vi o reflexo laranja na água. Em seguida, vi o navio, enorme, em chamas. Algumas labaredas voavam alto. Um ruído triste, não sei descrever. Ficamos 10, 15, 20 minutos olhando. Não falamos. Não perguntamos. Era um navio pegando fogo, à noite, de verdade. Era o depois da explosão. O mar estava aceso. Eu estava com saudade.
E não falamos nisso nunca mais.
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