"Enquanto eu não havia deixado totalmente de ser quem era, e enquanto não era quem estava destinado a ser, tive tempo de sofrer angústias muito particulares. Entre a pessoa que fui e o sujeito que ia ser, restaria uma coisa em comum: as recordações. Mas, à medida que as recordações iam sendo do sujeito que eu seria, apesar de conservarem os mesmos limites visuais e organização semelhante dos dados, iam tendo uma alma diferente. No sujeito que eu seria, começava a se insinuar um sorriso de prestamista, diante da valorização das recordações que faz quem as leva para empenhar. Para as mãos do prestamista das recordações pesava outra qualidade delas: não o passado pessoal, carregado de sentimentos íntimos e particulares, mas o peso do valor intrínseco." (p. 50-51, "El caballo perdido")
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