Friday, August 17, 2012

Desci até o térreo, precisava passar no supermercado antes de encontrar a Regina; combinamos de levar uma garrafa de vinho e uma de lambrusco. Depois, lá, na hora, tive a ideia de comprar uma caixa de chá; a gente se divertiu brindando com hortelã e mel na boca.
É disso que eu lembro quando me lembro do que aconteceu na manhã seguinte, numa padaria perto de casa, onde raramente tomo café e compro pão. Estava já sem pressa, sem planos, sem compromissos. Podia voltar a hora que fosse, do jeito que quisesse, com quem decidisse.
Encontrei a Mari sentada no balcão, com uma esfiha no prato, um suco de laranja e um maço de cigarros recém-aberto, ao lado da bolsa. Tinha acabado de encerrar a noite no bar que mantinha, há coisa de meses, com a irmã. Tinha acabado de decidir acabar com aquilo. Era para ser um bar como o que viu em Berlim. Mas era só um bar barato perto do Minhocão. 

Sunday, August 12, 2012

Estava olhando pela janela dos fundos do prédio em que morava. Muita coisa me faz pensar na vista que eu tinha dali. É só eu andar um pouco mais sozinho, quando faz frio, ou quando o calor não vence a brisa gelada de fim de tarde, na sombra. Penso no dia em que encontrei Fernanda e Henrique numa pizzaria delivery. Parecia que tudo, tudo, em todos os seus detalhes, continuaria acontecendo igual, mesmo que longe de mim. Pedi um pedaço da vegetariana. E tomei um suco de lata, extremamente doce para o jeito que lembraria dessa noite, hoje, tantos anos depois. Se pedissem para eu palpitar, diria que Fernanda e Henrique não terminariam juntos, no que eu estava certo. Mas não diria que Fernanda estaria morando em Paris. Não diria que a configuração daquela noite, para as coisas que giravam em torno de mim, nos lugares e entre as pessoas que eu frequentei, era só por mais algum tempo. Só. É engraçado como a gente se dopa com pizzas deliveries para olhar adiante e conseguir reunir ânimo para o passo seguinte.

Daquela janela, via os vizinhos e os filhos dos vizinhos brincando no pátio, enquanto escrevia um post ou mandava e-mail para alguém. Ouvia um monte de conversas enquanto escutava música e procurava nomes diferentes para coisas que eu já conhecia. Com outro nome. Dali, sentia o tempo passar, a hora mudar, o futuro acontecer cada vez mais rápido e sem explicação.

Tentei algumas vezes olhar das janelas que vieram depois, na esperança de reviver a mesma esperança. Experimentei na casa da última namorada, do último tio e do último amigo. Vi diversas coisas, várias delas parecidas, mas nada, em nenhum momento, tão bonito e imbatível como todas aquelas sensações que mexeram com o meu coração.

Monday, August 06, 2012

‎"Normalmente o futebol sai da vida de alguém aos poucos, à medida que os compromissos da vida adulta se tornam maiores e mais complexos, num processo lento e quase imperceptível semelhante ao que nos torna estranhos ao que foi vivo e cintilante no passado - todos os grandes projetos abortados, as amizades eternas que se perderam, os afetos indestrutíveis que hoje não significam mais nada." (p.80, O segundo tempo)
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